Nasce O Instituto Abdalaziz De Moura

Abdalaziz de Moura – Educador
Popular, Filósofo, Fundador do IAM

Durante o período de 15 de março até hoje 12 de outubro tive a oportunidade de escrever 9 textos. São tentativas de entender melhor o significado de tudo o que vem acontecendo neste período de Pandemia. Maioria deles refletindo a experiência pedagógica do Curso Técnico de Agroecologia do Serta que coordeno.

Como dar continuidade à aprendizagem no curso que parou com suas atividades presenciais?
Quais conteúdos priorizar?
Quais didáticas poderíamos fazer uso?
E que ações poderíamos realizar?

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A referência para responder a estas indagações foi a Peads - Pedagogia de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, que perpassa por todas as ações pedagógicas e técnicas do Serta. Senti neste período a necessidade de eu mesmo fazer este percurso da aprendizagem sugerido aos educandos/as. Fiz como ensinava a eles/elas: aprender a partir das vivências e experiências, das ações, impactos e desafios; escrever sobre estas vivências, problematizá-las e avançar nos Projetos de Vida. Percebi que era a hora de desenvolver Projetos de Vida como estava propondo aos educandos/as.

A pandemia me obrigou a permanecer mais tempo no meu terreno de meio hectare, onde vivo há 31 anos, em Gravatá-PE. Neste espaço, moro eu e a esposa e um dos filhos com esposa e três filhos. A convivência com os netos de 10, 5 e 4 anos foi muito agradável. Perguntava-me o que eles poderiam aprender neste espaço, uma vez que estavam sem frequentar a escola e tendo mais tempo para conviver neste espaço. Daí passei a perguntar o que outras crianças e adolescentes poderiam aprender em espaços como este que resido.

Fui ampliando estas perguntas: o que os/as estudantes das escolas municipais e estaduais poderiam aprender visitando este espaço? Depois me perguntei o que os/as turistas de Gravatá poderiam aprender? Ampliei mais ainda perguntando o que os/as gestores/as e lideranças locais poderiam aprender? O que os/as empresários/as poderiam aprender? O que os/as professores/as poderiam aprender? Como orientava os/as educandos/as para que alargassem a reflexão sobre suas experiências, também fui fazendo a minha própria experiência de alargamento.

Quanto mais alargava as perguntas, mais mergulhava no espaço de vida e observei que o Bioma Caatinga estava presente de forma exuberante na vegetação que mantive desde que cheguei. Descobri que este espaço poderia estar disponível para um público externo conhecê-lo. E daí conhecer muito mais coisa da agroecologia, do desenvolvimento rural, da ocupação dos espaços, da relação das pessoas com a natureza, da Educação do Campo, como outros técnicos/as e agricultores/as fazem em suas propriedades e o Serta nas duas unidades de ensino.

O resultado destas observações foi evoluindo para ações mais concretas. Recuperei um sonho antigo, de criar o Instituto Abdalaziz de Moura, uma personalidade jurídica que potencializasse estas oportunidades e viabilizasse a presença de pessoas de forma orgânica e sistêmica. Aos poucos, como acontece com os Projetos de Vida, este sonho veio tomando concretude. Estava difícil porque exigia infraestrutura física para receber as pessoas. Mas descobri que a sombra das árvores formava ótimos espaços para desenvolver atividades pedagógicas.

Partilhei o Projeto com a família e alguns/as dos/as muitos/as companheiros/as de caminhada. E ele foi rapidamente "tomando corpo", com a força de uma "semente latente" à espera das primeiras chuvas. E foi assim, que em pouco tempo, vi aquele Projeto de Vida tão antigo, tornar-se coletivo, vivo e aberto à participação de tantos/as outros/as, antigos/as e novos/as companheiros/as de caminhada.

 

Gravatá, 12 de outubro de 2020.
Abdalaziz de Moura Xavier de Morae

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